A Barata Arrogante
Era uma vez uma Barata - do sexo masculino - que era muito inteligente e sempre era o primeiro da classe. Tornou-se logo uma autoridade na sua área, a cirurgia plástica.
Era muito vaidoso e toda manhã se olhava no espelho e dizia:
- É impressionante como sou bonito e inteligente, dá até vontade de chorar diante de tanta beleza...
Era bem sucedido no trabalho e, como sucesso é sempre uma atração, as baratas, do sexo feminino, viviam arás dele. Tão convencido de sua auto-suficiência ele era, que podia ser considerado um padrão quando o assunto era indiferença para com os outros.
Essa nova geração de baratas desenvolvera alta resistência aos modernos venenos fabricados pelos Humanos. Assim a maioria dos venenos, antes mortais, hoje eram banais e sem efeito nocivo nenhum sobre elas. Alguns até eram consumidos em festinhas da elite pois seu único efeito era deixá-los aéreos ou doidões.
Haviam criado um conselho de cientistas especializados em estudar os novos venenos criados pelos homens, assim, podiam fabricar a tempo os antídotos e vacinas, em caso de contágio acidental.
Com o passar dos anos, a nova geração das baratas foi tomando conta de tudo, e novos costumes foram sendo incorporados ao dia a dia. Então, velhos costumes, como o kit inseticida foram sendo deixados de lado pelos mais novos. O conselho dos pesquisadores de venenos também foi extinto.
O Kit Inseticida era uma tradição milenar desde os tempos das Baratas profetas. E de geração em geração foram sendo incorporados aos costumes da população. Era uma caixinha que todas as pessoas - baratas- carregavam consigo e que continha alguns materiais básicos, com os quais os mesmos podiam testar a qualidade dos alimentos que comiam. Com o tempo, o Kit foi aperfeiçoado e foi a ele incorporado um detector de lagartixas. Assim, as mães sabiam que seus filhos de posse do Kit Inseticida, podiam andar seguros pelas ruas. Assim era comum as mães perguntarem aos filhos quando iam sair:
- Está levando seu celular? E o Kit Inseticida está na sua bolsa? Não se esqueça de na volta passar na Lanchonete Mac-Lixo e trazer para mim um Lixo-Burger...
Com a advento do Supermercado, ficara muito mais seguro para as baratas se alimentarem. Assim verdadeiros exércitos e baratas especializadas na coleta de alimentos saudáveis, vasculhavam diáriamente os muitos lixos das cidades de modo, que alimentos sempre frescos estavam à disposição da população e sem muitos riscos à saúde. Era comum nos anúncios de TV a mensagem do governo:
- Verifiquem se nos alimentos existe o Selo do Ministério dos Alimentos, para evitar riscos à sua saúde! Lembrem-se lixo saúdavel é lixo sujo...
Mas, a nova geração começou a desprezar as tradições milenares, e a primeira consequência foi a extinção do Kit Inseticida. Liderados pela Barata Prodígio disseram em coro:
- Nos novos tempos onde o rapel é uma religião, não há mais lugar para tradição de velhos esclerosados e sem novas idéias. Achamos que nossos Genes já estão adequadamente adaptados a todos os tipos de venenos que existem, e não mais precisamos dessas "tradições velhas" feita para velhos.
Feito! O Kit Inseticida foi tirado de circulação e seu uso tornou-se coisa de Caretas. E como ninguém queria ser Careta na nova sociedade, logo tornou-se peça de colecionadores.
Uma velha e sábia Barata então lhes disse em tom de alerta:
- Havia uma antiga civilização, onde as baratas lideradas por um tal de Barata-Hitler, também desprezaram o bom senso e deu no que deu...
Riram do velho Barata, e disseram:
- Não disse, velho só pensa em coisas velhas...Isso já era Coroa, nós estamos em outra realidade... nosso negócio é Skate, Rock Pesado, muito auê e Detefon orgânico...
E, resolveram comemorar. Foram então 600 baratas para um luxuoso clube de campo. Para o azar de todas elas, 500 lagartixas também tiveram a mesma idéia e foram comemorar suas formaturas no mesmo clube de campo. E sem o Kit Inseticida com Detector de Lagartixas em mãos, foram presas fáceis.
Uma das lagartixas, que estava se formando em nutrição, ao saborear a última barata, uma barata que era um respeitado doutor em engenharia genética, comentou meio intrigada e com ar eclético:
- Eu que só estava acostumado a comer essas iguarias finas criadas em cativeiro, achei estas que vivem soltas uma verdadeira delícia. São macias e com pouco colesterol. Esta então que acabo de degustar, tem um gosto que lembra a ciência, e lembra a mais pura safra das Baratas fogosas do Afeganistão. Magnifíco, um verdadeiro manjar dos Deuses.... Só fiquei triste porque comi apenas duas. A outra tinha um gosto meio plástico... parecia ser um cirurgião ou coisa parecida, e pelos seus gestos parecia ser de origem nobre. Pena que haviam tantos convidados e tão poucos petiscos...
Autor: Alberto S. Grimm
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